TOTALMENTE COPIADO DO http://blogladob.com.br/ da Thea Tavares
Por que odeio nordestino?Contribuição da jornalista Sirlei Fernandes, de Curitiba-PR
De nordestino tenho trauma acumulado desde a mais tenra infância. O problema vem desde aquela época em que a gente ia feliz da vida prá escola de guarda-pó branco e caderninho embaixo do braço para um dia poder ler e escrever.
Naqueles áureos tempos me disseram que um tal de Jorge Amado era um escritor baiano famoso e até hoje não consegui entender o porquê dessa constatação. Será porque ele escreveu dezenas de livros que retratam tão bem a história do povo nordestino do sertão e da cidade? Será porque das obras dele renderam adaptações de filmes de primeira linha, teatro e telas famosas? Será que odeio Jorge Amado porque as obras dele foram publicadas em 52 países?
Este pequeno exemplo já é motivo convincente para odiar o povo nordestino. Afinal de contas, porque a contribuição deles à literatura é tão expressiva e valorizada e a nossa não. Mas vou mais além.
Odeio nordestinos também por essa mania que eles tem em fazer música, dança, poesia reverenciadas no mundo inteiro. Se Strauss ficou famoso com suas valsas e Verdi com suas óperas, não menos valor tem os Doces Bárbaros, Djavan, Alceu Valença, Carlinhos Brown, Zé e Elba Ramalho e mais uma infinidade de gente talentosa. Tive a grata oportunidade de assistir um dia Chico César fazer embolada no violão com a Nona Sinfonia de Beethowen e o Luar do Sertão do Gonzaga e confesso: foi um verdadeiro deleite musical.
Lembro também do Baryshnikov. Ele tem méritos de sobra na dança. Mas, cá entre nós, quem consegue harmonizar os passos frenéticos do frevo e do maracatu não fica nem um pouco atrás do talentoso bailarino russo. E é só o nordestino capaz de conseguir a façanha.
Odeio o cearense Patativa do Assaré. Na sua sabedoria popular, ele já imaginava que: “a baixa, o sertão e a serra, Devia sê coisa nossa; Quem não trabalha na roça, Que diabo é que quer com a terra? Quer mais motivos para odiar o Assaré?
O nordestino também tem a mania de se sobressair na culinária. Odeio esse povo que capricha no acarajé, na tapioca, vatapá e moqueca. A comida deles é tão avassaladora que até político experimenta pra ver se o santo ajuda. Vide as ingerências da buchada de bode na trajetória de alguns.
Minha ira vai mais além. Além do povo carimbado de nordestino, ainda tem aqueles quilômetros de praias de areia fofa rodeadas de coqueiros. Lá, o azul do céu se confunde com as águas quase mornas, prontas pra receber gente do mundo inteiro num doce mergulho no mar.
Esse é o nordeste. Mesmo odiado, seu povo tem no coração a grandeza do sorriso franco e a alma acolhedora.
As riquezas culturais acumuladas na história pelo povo nordestino não serão destruídas por preconceitos nem desamor, porque as suas bases são mais fortes que o granito e o mármore.
|